2 de abril de 2010
As ilusões do Photoshop
NOVA MODA TRAZ BELEZA NATURAL, SEM RETOQUES
Atores e modelos podem chamar atenção sendo naturalmente imperfeitos. Revistas estão estampando homens e mulheres reais. É nisso que o mercado está interessado.
O debate é antigo e carregado de emoção: existe um padrão ideal de beleza? Na moda e na publicidade, ser magérrima não basta. O corpo ainda precisa ser digitalmente alterado. Hoje, programas de computador reduzem medidas, aumentam lábios, mudam cores. Atingem a “perfeição” em termos de imagem, mas como definir o limite entre retocar e enganar?
A manipulação digital é o assunto da coluna Coisas do Gênero, da Renata Vasconcellos.
Responda com sinceridade: você retocaria alguma coisa no George Clooney? E na Gisele Bündchen, você mexeria? “Acho que sempre tem uma coisinha pra melhorar”, comenta uma mulher. “Todo mundo fica perfeito na revista”, diz um rapaz. “Eu duvido das imagens que eu vejo”, critica uma jovem.
O que muita gente sabe, mas também esquece: para ficar bem na foto, algumas beldades que a gente vê, passam por retoques. Com a ajuda de uma canetinha mágica, tudo o que incomoda, sai. Ou entra. Dependendo da vontade e do gosto do cliente.
A perna está muito fininha? É só colocar um coxão nela. Se a manchinha da vacina não fica bem, fica de fora. É só tirar a marca dos óculos. E a brincadeira só pára depois da impressão.
“No Photoshop, você ajusta tudo. A pessoa fica uma perfeição”, declara uma jovem. “Você transforma a pessoa no que ela não é”, critica uma mulher. “Todas as fotos são trabalhadas e melhoradas”, aposta uma outra jovem.
“Acho que hoje não tem trabalho sem retoque”, reconhece o fotógrafo Alex Salgado.
Já no estúdio, o fotógrafo tem um olho na câmera e o outro no computador. Só vale o que fica bem na telinha. Até a nossa equipe ficou tentada a experimentar.
Outras técnicas para enganar o olho são usadas há muito tempo: manipulando a imagem na hora da revelação ou a boa e velha maquiagem. Que mulher que acorda meio apagadinha não gosta de sair linda na foto? O problema começa, quando as alterações ultrapassam o limite do bom senso.
“Eu lembro que uma vez apagaram o umbigo de uma mulher sem querer”, conta um rapaz. Em uma revista, a obsessão com a magreza deixou a cabeça da modelo maior que a própria cintura! Esses são exemplos de enganos, erros que revelam a manipulação por computador. Mas até quando o retoque consegue a perfeição. Cabe a pergunta? Devemos querer ser perfeitos?
“A moda, a publicidade, impõe às jovens que não têm muita informação, que não têm muito preparo até psicológico. Muitas ficam doentes. É uma busca incansável daquela beleza, daquela estética”, comenta o designer gráfico Marc Recco.
“Hoje em dia, a gente vê a foto de uma mulher muito bonita em um cartaz. Quando a gente encontra na rua, é fraquíssima”, diz um rapaz.
Cara limpa, com olheiras e marcas do tempo à mostra. Por que não vender beleza e felicidade desse jeito? Atrizes, atores e modelos descobriram que podem chamar mais atenção sendo naturalmente imperfeitos.
Revistas conhecidas no mundo todo estão estampando homens e mulheres reais. E é nisso que o mercado está interessado.
“O que a gente descobriu foi que a maior parte das mulheres era muito infelizes com o seu corpo. Elas não se acham bonitas. Elas encontram milhares de defeitos. A partir disso, a gente resolveu trabalhar não só com mulheres reais, mas mulheres que retratassem mulheres de todos os dias, algumas um pouco mais gordinhas, algumas com celulite, outras que não tivessem a pele completamente perfeita”, afirma Andrea Rolim, VP de marketing da Unilever
Os fotógrafos juram: “o Photoshop hoje em dia é um caminho sem volta", declara Alex Salgado.
Mas a técnica começa a ser usada de forma menos evidente, mais sutil. “As pessoas cansaram dessa coisa plastificada, dessa coisa falsa. Elas olham a imagem. As pessoas dizem: 'mulher nenhuma é assim, homem nenhum é assim", ressalta o designer gráfico Marc Recco.
Na França, um projeto de lei está causando polêmica. A proposta é tornar obrigatória a publicação de um aviso em todas as fotos digitalmente alteradas. Será que cola?
Fonte:g1.com.br
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