2 de outubro de 2009
Menos carros, menos poluição, mais saúde.
Seminário debate necessidade de informar a população sobre os impactos negativos do uso do automóvel
O mapa do Estado de São Paulo apresenta uma característica própria quando são analisados alguns dados relativos à saúde: as regiões mais poluídas são as mesmas em que acontecem mais mortes por doenças respiratórias e onde é maior o Índice de Desenvolvimento Humano. E isso não é mera coincidência. “Isso significa que o desenvolvimento urbano não está sendo sustentável”, afirmou Vera Lucia Allegro, gerente de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde, durante o seminário “O impacto da poluição na saúde pública”, realizado em São Paulo. O seminário foi uma das atividades do Dia Mundial sem Carro promovidas por um coletivo de organizações, entre elas o Instituto Akatu.
De acordo com estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, a poluição é a causa indireta de 20 mortes por dia somente na região metropolitana de São Paulo. O motivo é que os poluentes prejudicam principalmente as crianças e os idosos, além de agravar doenças cardíacas e respiratórias. E, em todo o mundo, as doenças cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais, são a principal causa de morte e de internações hospitalares, como informou Antonio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Automóveis, ônibus e caminhões são a principal fonte de poluição nas cidades. A situação só não é pior graças ao Proconve, o programa de controle de emissão de poluentes que está em vigor há duas décadas. “Entre 1995 e 2005, a redução da poluição poupou 15.000 mortes prematuras em São Paulo”, calcula Paulo Saldiva, coordenador do estudo sobre poluição da USP.
Motorizados, porém lentos.
Tantos veículos nas ruas, não apenas sujam o ar, mas provocam danos à saúde e não resolvem o problema da mobilidade urbana nem tornam mais fácil a vida das pessoas. “Atualmente, em São Paulo, a velocidade média dos automóveis é 9,7 km/h, enquanto uma pessoa a pé vai a 5 km/h”, disse Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.
De fato, no 4º Desafio Intermodal, realizado na semana anterior ao Dia Mundial sem Carro, a bicicleta foi o meio de transporte mais rápido entre um bairro da Zona Sul de São Paulo e o centro da cidade, em meio ao trânsito pesado das seis da tarde. A bicicleta campeã cumpriu o trajeto em 22 minutos. O motorista de um automóvel ficou na 12ª colocação, gastando 82 minutos no percurso — mais do que os 71 minutos de quem foi de ônibus e só um pouco mais rápido do que a pessoa que foi a pé, que levou 92 minutos.
Para Helio Mattar, as pessoas dificilmente relacionam o uso do automóvel aos impactos que ele provoca, como o aquecimento global causado pela emissão de CO2 e as mortes decorrentes da poluição. “Por isso, é importante a educação para o consumo, mostrando às pessoas que todos somos afetados por nossas escolhas e que as atitudes de cada um de nós têm grande impacto”, ressaltou.
Se o consumidor tivesse mais consciência dos impactos negativos do uso do automóvel, poderia ao menos escolher aqueles que poluem menos — desde que tivesse informações para isso. Para o consumidor brasileiro, entretanto, obter essas informações é uma tarefa quase impossível, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Falta informação sobre emissão de poluentes.
A pesquisa, apresentada por Lisa Gunn, coordenadora executiva do Idec, buscou informações sobre eficiência energética (ou menor consumo), emissões de gases poluentes e emissões de gases de efeito estufa dos automóveis. Foram investigados todos os canais disponíveis ao consumidor: site das montadoras, SAC telefônico e online, manual do proprietário, concessionárias e material publicitário nos pontos de venda. Além disso, foram enviados questionários às montadoras presentes no Brasil: GM, Citroën, Fiat, Ford, Honda, Hyundai, Nissan, Peugeot, Renault, Toyota e Volkswagen.
O resultado mostrou que o consumidor tem pouquíssimas informações disponíveis sobre consumo de combustível e emissão de poluentes pelos automóveis. Nenhuma montadora apresenta essas informações no site, nem as divulga por meio do SAC. E nenhuma respondeu ao questionário enviado pelo Idec. Veja aqui o resultado completo da pesquisa.
“Dizemos que o consumidor tem de mudar seus hábitos de consumo, que ele tem de optar por comprar ou não um carro em função dos seus impactos sobre a saúde, mas ele não tem instrumentos para isso”, afirmou Lisa Gunn. “O desafio é: como se pode evoluir para levar ao consumidor essas três informações fundamentais?”
O seminário contou ainda com a presença de Eduardo Jorge (secretário municipal de Verde e Meio Ambiente de São Paulo), Alfred Swarc (da consultoria ADS Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável), Claudio Alonso (da CETESB) e José Eduardo Ismael Lutti (promotor de Justiça do Meio Ambiente da Capital).
À mesa de debates, duas cadeiras vazias representavam os ausentes. Uma delas pertencia à Petrobras, que foi convidada, mas decidiu não enviar nenhum representante. A outra cabia às montadoras de veículos: Ford, GM, Mercedes-Benz, Volkswagen e Fiat declinaram os convites, e Scania e Volvo nem responderam.
Um ponto importante a favor da Fiat foi que, embora não estivesse presente ao seminário, enviou carta afirmando não apoiar o projeto de lei em debate no Senado para permitir que veículos leves tenham motores a diesel. Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo, apontou que esta decisão do Senado seria desastrosa, pois “o diesel de muito má qualidade fornecido pela Petrobras estaria ainda mais presente como contaminante do ar nas grandes cidades”.
Fonte: Instituto Akatu
Por Fátima Cardoso
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